segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ivens Machado

Cadernos nº1 e nº3, 1974/1979
Galeria Saramenha


“Os desenhos de Ivens – 1974 – reproduzem fielmente, em uma primeira olhada, as
pautas de um caderno. A atividade de desenhar reduz-se à monotonia do gesto que
organiza o espaço segundo as exigências da escritura. A folha é ocupada em sua
totalidade, conforme o ponto de vista desta lógica. Malha cerrada que aparece
com toda força do que ela pode instrumentalizar. De repente, nos damos conta de
que alguma coisa aconteceu. A folha de caderno não funciona como deveria. São,
por exemplo, poucas linhas que se romperam ficando penduradas, como uma
armadilha virtual para escritura. Em outro desenho, aparecem linhas que
quebraram e foram emendadas por um pequeno nó. À lógica do poder deste espaço
marcado para a escritura, o artista impõe outra lógica. São páginas de caderno
que jamais serão escritas. A totalidade de seu espaço está comprometida pela
disfunção de uma de suas partes. As linhas rompidas quebram a lógica que as
regulava. Jamais serão escritas, porque, além disso, apresentam-se deslocadas de
seu contexto habitual, resguardadas pelo novo estatuto que possuem – o estatuto
de arte."

Fernando Cocchiarale.

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