“De ano para ano, o fluxo de jornais, revistas, folhetos e livros não cessa de
aumentar. As bibliotecas têm apenas o tempo de catalogar todas as publicações.
As bibliografias ficam tão extensas, que por si só exigem bibliografia... A
especialização dos conhecimentos e o aumento dos artigos em todos os campos
científicos são as duas pragas do pensamento científico contemporâneo”.
Lançado
em março de 1974, em Recife, no Frigorífico Boa Vista, este é mais um trabalho
de Paulo Bruscky e Daniel Santiago, que já há um tempo vêm realizando pesquisa
e experiências ligadas aos problemas e caminhos da arte contemporânea.
São
162 objetos construídos a partir do reaproveitamento de material já impresso e
anteriormente veiculado de diversas maneiras. O aproveitamento deste “quase”
lixo edito-industrial, cujo objetivo de produção era o de fazer parte num
contexto de rápido consumismo, vem marcar claramente o aspecto metacrítico do
trabalho em relação às maneiras de produzir/consumir da atual sociedade
capitalista de consumo.
“Passamos
alguns meses (de 10/73 a 02/74, mais ou menos) juntando tudo que fosse papel:
revistas, mapas, carbonos, papel branco, de presente, papéis impressos em geral
etc... e tem textos em várias línguas: português, francês, inglês, japonês,
alemão etc... pois fomos em diversos consulados recolher material para a
confecção dos livros”. A capa – totalmente branca, excetuando-se um carimbo
circular preto onde está o título – forma oposição com as unidades/páginas que,
com várias texturas, cores, assuntos e procedências(e resumidas num mesmo
suporte) tornam cada virar de página (corte tipográfico) um salto-explosão de
informação. “A composição de cada livro foi completamente aleatória, pois
espalhamos todas as folhas (12.200 mais ou menos) dentro de uma sala com três
ventiladores-ciclone e deixamos os ventiladores ligados por duas horas e depois
recolhemos o material (ufa! Levamos dois dias recolhendo as folhas pelo chão) e
separamos em pilhas e levamos para colocar as capas.
Os
antigos métodos de produção e consumo do artístico são colocados sob outro
ângulo. As etapas anteriores à “obra” mantêm função atuante em relação ao produto
final a elaborar. O “objeto-em-forma-de-livro” é entregue em projeto,
possibilitando versões, novas leituras e possibilidades de manuseio. A
anti-obra, ao tirar o espectador de sua posição contemplativa e de passividade,
tornando-o outro autor, assume a mudança do individual para o social.
OUTRA PEDRA DE ROSETTA: objeto-em-forma-de-livro para ser mexido.
Obs.: os trechos em negrito e entre aspas foram tirados de material enviado
pelos autores. Para se ter uma idéia da situação geral enfrentada pelos produtores
que optaram pela vanguarda não-comerciante, Outra
Pedra de Rosetta do dia de seu lançamento até abril deste ano vendeu 1 (um)
exemplar... Os interessados poderão encontrá-lo na Livro 7, em Recife. (Sérgio Amaral. Revista Vozes, Ano 69, nº 9,
novembro de 1975).
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