segunda-feira, 6 de abril de 2015

Equipe Bruscky & Santiago



“Objeto-em-forma-de-livro”


“De ano para ano, o fluxo de jornais, revistas, folhetos e livros não cessa de aumentar. As bibliotecas têm apenas o tempo de catalogar todas as publicações. As bibliografias ficam tão extensas, que por si só exigem bibliografia... A especialização dos conhecimentos e o aumento dos artigos em todos os campos científicos são as duas pragas do pensamento científico contemporâneo”.
            Lançado em março de 1974, em Recife, no Frigorífico Boa Vista, este é mais um trabalho de Paulo Bruscky e Daniel Santiago, que já há um tempo vêm realizando pesquisa e experiências ligadas aos problemas e caminhos da arte contemporânea.
            São 162 objetos construídos a partir do reaproveitamento de material já impresso e anteriormente veiculado de diversas maneiras. O aproveitamento deste “quase” lixo edito-industrial, cujo objetivo de produção era o de fazer parte num contexto de rápido consumismo, vem marcar claramente o aspecto metacrítico do trabalho em relação às maneiras de produzir/consumir da atual sociedade capitalista de consumo.
            “Passamos alguns meses (de 10/73 a 02/74, mais ou menos) juntando tudo que fosse papel: revistas, mapas, carbonos, papel branco, de presente, papéis impressos em geral etc... e tem textos em várias línguas: português, francês, inglês, japonês, alemão etc... pois fomos em diversos consulados recolher material para a confecção dos livros”. A capa – totalmente branca, excetuando-se um carimbo circular preto onde está o título – forma oposição com as unidades/páginas que, com várias texturas, cores, assuntos e procedências(e resumidas num mesmo suporte) tornam cada virar de página (corte tipográfico) um salto-explosão de informação. “A composição de cada livro foi completamente aleatória, pois espalhamos todas as folhas (12.200 mais ou menos) dentro de uma sala com três ventiladores-ciclone e deixamos os ventiladores ligados por duas horas e depois recolhemos o material (ufa! Levamos dois dias recolhendo as folhas pelo chão) e separamos em pilhas e levamos para colocar as capas.
            Os antigos métodos de produção e consumo do artístico são colocados sob outro ângulo. As etapas anteriores à “obra” mantêm função atuante em relação ao produto final a elaborar. O “objeto-em-forma-de-livro” é entregue em projeto, possibilitando versões, novas leituras e possibilidades de manuseio. A anti-obra, ao tirar o espectador de sua posição contemplativa e de passividade, tornando-o outro autor, assume a mudança do individual para o social.

OUTRA PEDRA DE ROSETTA: objeto-em-forma-de-livro para ser mexido. Obs.: os trechos em negrito e entre aspas foram tirados de material enviado pelos autores. Para se ter uma idéia da situação geral enfrentada pelos produtores que optaram pela vanguarda não-comerciante, Outra Pedra de Rosetta do dia de seu lançamento até abril deste ano vendeu 1 (um) exemplar... Os interessados poderão encontrá-lo na Livro 7, em Recife. (Sérgio Amaral. Revista Vozes, Ano 69, nº 9, novembro de 1975).

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