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A técnica de miniatura tradicional incorporada em trabalhos da paquistanesa Shazia Sikander
A LEITURA
Para ler a velha arte, basta conhecer o alfabeto.
Para ler a nova arte devemos apreender o livro como uma estrutura, identificar seus elementos e compreender sua função.
Podemos ler a velha arte acreditando que a entendemos, e podemos estar errados.
Tal engano é impossível na nova arte. Você só pode ler se você compreender.
Na velha arte todos os livros são lidos da mesma maneira.
Na nova arte cada livro requer uma leitura diferente.
Na velha arte, ler a última página leva tanto tempo quanto ler a primeira.
Na nova arte o ritmo da leitura muda, aumenta, acelera.
Para compreender e apreciar um livro da velha arte é necessário lê-lo completamente. Na nova arte você NÃO precisa ler o livro inteiro.
A leitura pode parar no momento em que você compreendeu a estrutura total do livro.
A nova arte torna possível uma leitura mais rápida do que os métodos de leitura dinâmica.
Existem métodos de leitura dinâmica porque os métodos de escrita são demasiado lentos.
Ler um livro é perceber sequencialmente sua estrutura.
A velha arte ignora a leitura.
A nova arte cria condições específicas de leitura.
O mais longe que a velha arte chegou, foi levar em consideração seus leitores, o que já foi longe demais.
A nova arte não discrimina leitores; não se dirige aos viciados em leitura nem tenta roubar o público da televisão.
Para poder ler a nova arte, e para compreendê-la, você não precisa gastar cinco anos em uma faculdade de letras.
Para ser apreciados, os livros da nova arte não necessitam de cumplicidade sentimental e/ou intelectual dos leitores em matéria de amor, política, psicologia, geografia, etc.
A nova arte apela para a habilidade que cada homem possui para compreender e criar signos e sistemas de signos.
(traduzido por Amir Brito)
El Arte Nuevo de Hacer Libros, do artista e poeta mexicano Ulises Carrión foi publicado na revista Plural em fevereiro de 1975. The New Art of Making Books foi publicado em Kontexts no. 6-7, 1975, e impresso pelo Center for Book Arts nesse mesmo ano, a pedido do autor e distribuído gratuitamente para os membros do Centro. Ulises iniciou a livraria Other Books and So em Amsterdam em 1975. Ele faleceu em 1989. Este ensaio também foi publicado
Difícil responder a tal pergunta
A pergunta que o tempo eternizou
Pois se alguém com alguém sempre ficou
São só dois corpos vãos que a vida ajunta.
O que é sonhar, cismar ou divagar
Definir o que é flama, fé ou flor
São flácidas palavras sem valor
Os fáceis pensamentos cor do ar.
Restaria esta inútil melopéia
De quem burila o texto e logo ri
Do verbo que se quer visão e idéia.
Mas neste espelho me olho e vejo a ti
E ganho o conhecer renovador.
A resposta é você. O que é o amor?
Os desenhos de cenas, pessoas e lugares visitados, assim como as descrições verbais de situações, usos e costumes, tão comuns em relatos de viagem, são substituídos por diversos tipos de escrita.
A caligrafia como registro de um percurso. Os desenhos caligráficos preenchem um caderno de páginas sem pautas, em que as linhas imitam o movimento da escrita, como se o texto fosse escrito em uma língua estrangeira.
Em páginas alternadas, escritas inventadas e outras existentes, algumas extintas ou desconhecidas pela maioria das pessoas, de modo a dificultar a distinção entre um e outro tipo. Por comparação, a imitação da escrita foi o suficiente para sugerir a existência de um texto escrito onde havia apenas desenhos.
As linhas contínuas, sinuosas, são distribuídas pela página de modo que o conjunto de sinais, em fileiras ou colunas, também forme um desenho. O livro remete às miniaturas medievais, onde a cor serve para integrar imagem e texto no espaço da página. A caligrafia é um meio para chegar ao livro.
Outras páginas deste caderno podem ser vistas aqui