sexta-feira, 18 de abril de 2008

Ulises Carrión

A nova arte de fazer livros (trecho)

A LEITURA

Para ler a velha arte, basta conhecer o alfabeto.

Para ler a nova arte devemos apreender o livro como uma estrutura, identificar seus elementos e compreender sua função.

Podemos ler a velha arte acreditando que a entendemos, e podemos estar errados.

Tal engano é impossível na nova arte. Você só pode ler se você compreender.

Na velha arte todos os livros são lidos da mesma maneira.

Na nova arte cada livro requer uma leitura diferente.

Na velha arte, ler a última página leva tanto tempo quanto ler a primeira.

Na nova arte o ritmo da leitura muda, aumenta, acelera.

Para compreender e apreciar um livro da velha arte é necessário lê-lo completamente. Na nova arte você NÃO precisa ler o livro inteiro.

A leitura pode parar no momento em que você compreendeu a estrutura total do livro.

A nova arte torna possível uma leitura mais rápida do que os métodos de leitura dinâmica.

Existem métodos de leitura dinâmica porque os métodos de escrita são demasiado lentos.

Ler um livro é perceber sequencialmente sua estrutura.

A velha arte ignora a leitura.

A nova arte cria condições específicas de leitura.

O mais longe que a velha arte chegou, foi levar em consideração seus leitores, o que já foi longe demais.

A nova arte não discrimina leitores; não se dirige aos viciados em leitura nem tenta roubar o público da televisão.

Para poder ler a nova arte, e para compreendê-la, você não precisa gastar cinco anos em uma faculdade de letras.

Para ser apreciados, os livros da nova arte não necessitam de cumplicidade sentimental e/ou intelectual dos leitores em matéria de amor, política, psicologia, geografia, etc.

A nova arte apela para a habilidade que cada homem possui para compreender e criar signos e sistemas de signos.



(traduzido por Amir Brito)

El Arte Nuevo de Hacer Libros, do artista e poeta mexicano Ulises Carrión foi publicado na revista Plural em fevereiro de 1975. The New Art of Making Books foi publicado em Kontexts no. 6-7, 1975, e impresso pelo Center for Book Arts nesse mesmo ano, a pedido do autor e distribuído gratuitamente para os membros do Centro. Ulises iniciou a livraria Other Books and So em Amsterdam em 1975. Ele faleceu em 1989. Este ensaio também foi publicado em Joan Lyons, Ed. ARTISTS' BOOKS: A Critical Anthology And Sourcebook, Visual Studies Workshop, 1985, 1993, e em Guy Schraenen: Ulises Carrión. We have won! Haven't we?, Amsterdam, 1992. O texto em inglês está disponível em www.centerforbookarts.org.

Nenhum comentário: