terça-feira, 26 de maio de 2020

Cy Twombly

  Odi de Orazio

 untitled, 1970

 s/t, 1971


palimpsest
 roma


"Garatujas" de Cy Twombly. 

Por ocasião da 23ª Bienal de São Paulo em 1996, quando o artista apresentou algumas telas como estas, foi publicado em português o texto de Roland Barthes sobre Twombly:
http://www.23bienal.org.br/especial/petw.htm

Devemos considerar como surpresas todas as intervenções de escrita no campo da tela: cada vez que Twombly produz um grafismo, há um tremor, uma desordem na naturalidade da pintura. Essas intervenções são de três tipos (para simplificar). Primeiro, há as marcas de escalonamento, os números, os pequenos algaritmos, tudo o que produz uma contradição entre a inutilidade soberana da pintura e os signos utilitários do cálculo. Segundo, há as telas em que o único acontecimento é uma palavra manuscrita. Por fim, há, nos dois tipos de intervenção, a constante 'inabilidade' da mão. A letra, em Twombly, é exatamente o contrário de uma iluminura ou de um tipograma; ela parece ser desenhada sem cuidado e, contudo, não é verdadeiramente infantil, porque a criança aplica-se, faz força sobre o papel, arrendonda os cantos, põe a língua para fora num gesto de esforço. Ela trabalha arduamente para atingir o código dos adultos, e Twombly afasta-se dele, aumenta, arrasta; sua mão parece levitar, a palavra parece ter sido escrita com a ponta dos dedos, não por repulsa ou tédio, mas por uma espécie de fantasia que decepciona o que se espera da 'bela mão' de um pintor: essa expressão era usada, no século XVII, para designar o copista, que tinha uma letra bonita. E quem poderia escrever melhor do que um pintor?

O texto foi publicado antes, junto com outro famoso ensaio sobre Twombly,  “Non multa sed multum”, em O Óbvio e o Obtuso: ensaios críticos III. 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.


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